O Tio Madeira também já teve sua cota de protestos, mas neste caso atuando como juiz. Muito se tem falado em como tratar os manifestantes e eu tive uma situação bem interessante e difícil no interior de São Paulo.
Havia acabado de chegar em Rosana (onze horas de viagem de ônibus partindo de Sampa). Fui para o hotel, tomei banho e me dirigi ao fórum. Eram nove horas da manhã e a advogada da prefeitura já estava me esperando.
Disse que precisava de uma liminar urgente pois os sem terra (MST) estavam indo para a Prefeitura e iriam destruir tudo. Eles já haviam destruído o fórum de Teodoro Sampaio dois meses antes.
Pensei, refleti muito e dei a liminar. Chamei a melhor oficial de justiça e disse: entregue em mãos do Zé Rainha e diga para ele que se quiser conversar eu estarei aqui no fórum esperando.
Onze horas da manhã eu sinto um rebuliço no fórum e ele aparece com cerca de dez pessoas. Quer conversar.
Um detalhe importante: na liminar eu disse que o direito de protestos era legítimo mas que não poderia impedir o exercício da democracia no município. Isso não seria admissível.
Ele entra, olha para mim e diz: parabéns Dr., finalmente um juiz que entende liberdade de expressão e a importância do MST.
Pedi para ele se sentar e disse: Sr. Zé Rainha, não precisamos fingir. Eu sei que o Sr. odeia juiz pois leio Caros Amigos. Então melhor dispensarmos amenidades. Ele sorriu e entendeu com quem estava lidando rs.
Ele me perguntou se poderia fazer o protesto: eu disse que evidente que sim, desde que não impedisse o acesso das pessoas à Prefeitura. Nesta hora ele se levantou e disse: jamais faria isso.
Eu olhei para ele, levantei-me também, tirei o paletó e disse: agora falaremos de homem para homem, no fio do bigode (na época eu usava cavanhaque). O Sr. jura que não invadirá a Prefeitura? E ele: juro.
Virei para o escrevente e disse: Betão, pode ligar para o Prefeito e dizer que ele pode reabrir a prefeitura. Porque Sr. Zé Rainha, o prefeito sabe que estamos conversando, não existe justiça de conchavo aqui.
Ele me agradeceu e saiu.
Óbvio que eu morri de medo depois. Qualquer problema iria cair na minha conta. Eu tinha garantido.
E, devo dizer, foi lindo! Ele ficou três dias protestando e depois foi embora. Isso é democracia.
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