O então juiz vice-presidente do já extinto Tribunal de Alçada Criminal do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Luiz César Aguiar Bittencourt Silva, requereu ao então presidente da Corte, Dr. Genarino Carvalho, a aquisição de um pinguim de louça colorida para encimar a geladeira de seu gabinete.
Não bastasse a excentricidade do pedido, o juiz ornou o ofício com uma exposição de motivos anexa, repleta de justificativas jurídicas, literárias e históricas:
“Ofício nº. GVP-01
Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 1988
Exmo Sr.
Dr. Genarino Carvalho
DD Presidente do Egrégio Tribunal de Alçada Criminal – RJ
Senhor Presidente
Tenho a honra de dirigir-me a V. Exa. com fim de solicitar a aquisição de um pinguim para ser colocado sobre a geladeira que se encontra nesta Vice-Presidência.
O citado ornato deve ser de louça colorida com cerca de 20 centímetros de altura e poderá ser encontrado a preço módico no “Bazar Flor de Madureira” e na “Triunfante do Centenário”, o primeiro nesta cidade e o segundo no vizinho município de Duque de Caxias.
A razão do pedido se prende ao fato que havendo uma geladeira, nesta falta o ornamento do pinguim, encontradiço em todas aquelas que se prezam.
Assim, contando com o seu alto espírito público e estético reitero o pedido inicial.
Luiz Cesar Aguiar Bittencourt Silva
Juiz Vice-Presidente
ANEXO:
Em aditamento ao oficio GVP-01-88, apresento a V.Exa. as seguintes considerações:
O pinguim é uma espécie encontradiça nos climas frios. Seu “habitat” é a Antártida, região onde o gelo é permanente. Ora, a geladeira também tem gelo – sempre. A compatibilidade binômio pinguim-geladeira, portanto, é inquestionável. Encimar uma geladeira com um elefante ou um leão, animais de países quentes seria incompatível com o bom senso. O pinguim não.
Se isto não bastasse, alinhamos outros argumentos:
Em recente pesquisa do IBOPE, constatou-se um resultado impressionante: 52% dos entrevistados afirmaram que possuem um pinguim sobre a sua geladeira; 28% que, embora não o possuindo, tinham vontade de tê-lo e só 12% declararam total desinteresse pelo assunto.
A presença do palmípede no posicionamento que se postula é numerosa nas tradições populares, nas regiões mais frias. No folclore gaúcho é conhecidíssima a trova:
“Vou me embora desta terra
com meu pingo e chaleira
pois aqui já não existe
um pinguim na geladeira”
Vi lá no inativo Página Legal
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