Como já é conhecido no ditado popular: "A primeira vez a gente nunca esquece". E nos deparamos com essa máxima diversas vezes durante a vida, como não poderia ser diferente.
Assim como no primeiro dia de aula, no primeiro emprego, a primeira namorada, a primeira relação sexual e tantas outras "primeiras vezes" que temos que encarar no decorrer de nossa existência.
Fato é, que, há alguns anos, não tantos, estava eu no 7º período de Direito, apenas mais um, entre tantos outros estudantes espalhados por esse país afora. E como é usual na maioria das faculdades que oferecem o curso, os 3 últimos períodos reservam uma grade curricular destinada à prática jurídica.
Era basicamente atendimento , elaboração de peças, acompanhamento de audiências, enfim, todo o exercício de praxe de qualquer advogado.
Porém, sabemos que muitos dos alunos não levam muito a sério esse momento acadêmico, que deveria ser tão crucial na vida de um estudante de Direito, já que ali é basicamente a essência do exercício da advocacia. E, claro, eu não fugia à regra. Me interessava mais no "buteco" próximo à faculdade ou nas festas que estavam por acontecer; Confesso que só consegui compreender a faculdade depois de graduado.
Pois bem, voltando ao assunto, mais um dia de aula, abro o escritório virtual e me deparo com uma audiência designada para o dia seguinte. Aí voltamos à máxima da "primeira vez". Sim, caros leitores , era a minha primeira audiência. A minha noção de audiência naquela época era a mesma que de qualquer leigo, com a presença das partes, de advogados e do juiz em algum gabinete do Fórum. Nem mesmo cogitei à presença do Parquet, o "temível" Promotor de Justiça, já que se tratava de uma audiência de Alimentos.
Chega então o momento da verdade, visto o terno, bastante tenso, frio na barriga, sendo que a única coisa que amenizava esse pânico era de que eu apenas acompanharia a audiência juntamente da professora, que obviamente era advogada, já que era estudante e apenas possuía a carteira de estagiário.
Já no Fórum, aguardo o horário da audiência e a chamada, já que não conhecia a professora escalada para tal procedimento e tampouco a cliente, uma vez que fui inserido no meio da causa.
Quando convocados para entrar na sala de audiência para o cumprimento do ato, vejo apenas um senhor acompanhado do advogado e uma senhora que fui descobrir ser a cliente naquele momento. Senti que algo estava faltando, ou melhor, uma pessoa; Olhava para todos os lados para checar se havia sinal de alguma moça jovem bonita, bem vestida, com ar professoral, mas nada.
Foi aí então que o desespero chegou imponente. O advogado,"ex adverso", veio até mim e me cumprimentou com as singelas palavras: " E aí Dr., tudo bem?". Tentei disfarçar e respondi no mesmo tom, sem coragem de dizer que não era eu a pessoa que deveria estar ali sendo cumprimentada.
Entramos na sala, naquele momento já me encontrava anestesiado pela forte tensão que me dominava , sob os olhares "sanguinários" do juiz e do representante do Parquet, aguardei a parte contrária se posicionar primeiramente, para que eu tivesse a noção exata de onde sentar e de como proceder.
Eu simplesmente não tinha noção alguma de como agir, de como direcionar a senhora que me suplicava por alguma orientação. Tentei ganhar tempo explicando o inexplicável, nada com nada, sem base jurídica alguma. E tudo que eu precisava naquele momento era o máximo de procrastinação para que a tal da professora chegasse a tempo de uma grande "tragédia jurídica".
Iniciada a audiência, o advogado propôs um valor menor de pagamento da pensão. O Promotor de Justiça rechaçou a ideia prontamente. Nesse momento já não sabia mais o que estava sentindo, já que sabia que o próximo passo seria algum questionamento do juiz direcionado à minha pessoa.
E foi nesse momento, quando o juiz suspirou para soltar sua voz para o derradeiro "golpe", a porta da sala se abre, como uma luz de esperança, como um raio solar vindo da janela de um quarto escuro, assim como no filme "O Jardim Secreto", entra a salvadora da pátria, a heroína que qualquer nerd sonhou, ela, a dita professora. O suspiro de alívio veio de imediato. (Depois de um tempo olhamos para trás, com muitas gargalhadas, e percebemos quantos "monstros" criamos em nossas mentes por algo absolutamente "ridículo". Mas a primeira vez é sempre assim :))
E com ele, o aprendizado de que o medo, o receio são normais em nossa vida. Só não podemos deixar de enfrentá-los. Deixar de vivê-los. É a grande tônica da vida e do sucesso. E por isso que o medo torna-se tão marcante e importante, já que sempre nos rodeia daquilo que é novo em nosso destino e que nos traz forças para superá-lo.
Lucas C. Fidelis
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