Recentemente um caso chamou a atenção de todos do mundo jurídico, um advogado do interior de São Paulo elaborou uma petição e no meio de sua defesa incluiu uma receita de pamonha com o objetivo de mostrar para todos que os juízes não leem as petições.
O caso foi divulgado em primeira mão pelo NED, já que o próprio causídico nos enviou a petição, e repercutiu em diversos sites jurídicos. E por isso muitos meios de comunicação tentaram uma entrevista com o advogado, mas, por medo de ser identificado, ele recusou todas… ou melhor, quase todas, porque ele é brother do NED e aceitou conceder uma entrevista, desde que sua identidade não fosse revelada.
Assim, com vocês a entrevista com o ADVOGADO DA PAMONHA! (desculpem se não gostarem das perguntas, mas não somos jornalistas)
NED: Apesar de não querer se identificar, você poderia nos contar um pouco sobre sua carreira?
Sou professor de direito civil e advogado há 16 anos, atuo principalmente na área de cobranças bancárias em uma cidade do interior de São Paulo, possuo um escritório onde emprego mais 4 advogados e 3 estagiários. Sou pai de dois meninos, um cachorro e um papagaio.
NED: De onde surgiu a ideia de fazer um protesto tão inusitado?
Eu já vinha pensando em fazer isso há algum tempo, mas tinha um certo receio de prejudicar um de meus clientes caso eu fosse descoberto, então, precisei escolher bem em qual processo eu iria me “pronunciar” para somente então colocar o plano em prática.
NED: Qual era a intenção em realizar o protesto?
Eu queria chamar a atenção para o descaso que os advogados são tratados, não se trata apenas de não ler uma petição, mas do desrespeito com os advogados durante as audiências, juízes que não recebem o advogado para um simples despacho e tantas outras coisas que só os advogados sabem.
NED: De todo modo, você correu o risco de ser descoberto e prejudicar o seu cliente e manchar o nome de seu escritório, você não acha que se tivesse sido descoberto iria prejudicar o seu cliente?
Acredito que não, pois são coisas distintas, muito embora eu tenha me utilizado de um processo para realizar um protesto, eu acredito que os magistrados devem fazer justiça e se forem corretos e honestos, devem julgar de acordo com os fatos, e por isso não acredito que poderia prejudicar o meu cliente. Talvez em um caso extremo eu teria que refazer minha petição sem o protesto, mas acho que nada além disso.
NED: Desde o começo a ideia era escrever a receita de pamonha?
Não. Enquanto eu pensava nas formas de protesto eu imaginei vários cenários, pensei em colocar um trecho do hino do Santos (meu time de coração), depois pensei em escrever o trecho da música Que país é esse?, a ideia da receita de pamonha veio enquanto eu escrevia a minha manifestação, quando um dos estagiários do meu escritório chamou um outro de pamonha.
NED: E você come pamonha?
Não, não como milho e nenhum de seus derivados.
NED: Qual foi sua reação quando percebeu que o juiz não leu a receita da pamonha?
A primeira reação não foi de surpresa, pois eu tinha certeza que o juiz não iria ler, logo em seguida enviei para o NED a petição e o despacho que comprovava que o protesto não havia sido lido.
NED: E como foi a repercussão depois da divulgação?
A repercussão foi impressionante, eu nunca imaginei que teria um alcance tão grande, diversos meios de comunicação tentaram fazer entrevistas comigo, mas recusei todas pois tive receio de ser descoberto. No mesmo dia que a petição foi ao ar, eu recebi a notícia, e depois outras pessoas vieram me perguntar se eu tinha visto o advogado que escreveu a receita de pamonha na petição.
NED: Mas você mesmo não disse que não teria medo de possíveis consequências?
Sim, não temia pelas consequências naquele processo, uma vez que o direito de meu cliente era líquido e certo, mas temia pelo futuro, tanto com a eventual perda de clientes como de uma represália por parte dos magistrados da comarca.
NED: E qual foi a reação do pessoal que trabalha com você?
Antes de distribuir eu não contei para ninguém, apenas depois que já havia sido publicado no NED eu informei o pessoal aqui do escritório. Levei bronca até do estagiário, que me chamou de maluco.
NED: Algumas pessoas te chamaram de covarde, pois “escondeu” a receita em meio a uma jurisprudência, com letras miúdas, o que acha disso?
Eu não dou a mínima, pois todos que me chamaram de covarde não tiveram essa coragem. É muito fácil criticar quando se está de fora!
NED: Você acha que depois disso os juízes vão ler os processos com mais atenção?
Não, infelizmente continuará do mesmo modo, continuaremos sendo desrespeitados.
NED: Você tem alguma mensagem para os leitores do NED?
Vamos todos colocar uma receita em meio às nossas petições e protestar!
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