Todos sabem de minhas posições pela defesa dos direitos e garantias fundamentais. E todos também sabem que entendo que devemos ser eficazes naquilo que queremos, conseguir fazer valer as decisões.
Pois bem, eu era juiz em uma comarca muito, mas muito distante de São Paulo. Aliás, distante de tudo. Era uma sexta feira e a única audiência do dia era um interrogatório de réu preso (na época, o interrogatório era o primeiro ato do processo).
Antes de iniciar a audiência um advogado bateu em minha porta e disse que a escolta não estava deixando ele conversar com o seu cliente. Vocês sabem que é direito do réu entrevistar-se reservadamente com seu advogado.
Não acreditei no advogado e mandei chamar a escolta.
O chefe da escolta policial, um oficial com cara de bravo e uma arma calibre 12 nas mãos entrou com cara de poucos amigos. Perguntei o que estava acontecendo e ele disse que era aquilo mesmo.
Disse que não tinha autorização para deixar o advogado conversar com o preso e não havia juiz no mundo que o fizesse descumprir uma ordem. Disse ainda que eu poderia prende-lo que ele iria para a prisão com gosto.
Veja bem meu padawan, eu poderia sim prende-lo. Poderia fazer uma série de coisas. Mas não resolveria meu problema: queria fazer cumprir o CPP e a CF e queria fazer isso rápido, pois tinha outras coisas para fazer. Além disso, não havia ninguém na cidade que poderia prender o policial, pois os policiais estavam em um operação em outra cidade.
Eu não tive dúvidas: olhei bem nos olhos do policial e comecei a chorar. Disse que o advogado era um FDP, que eu estava em estágio probatório e que tinha quatro filhos para alimentar. Disse por fim que eu não seria vitaliciado por causa daquilo.
O policial olhou para mim e disse: Dr., o Sr. é gente boa. Vou quebrar o seu galho e permitir isso.
E assim, tudo transcorreu numa boa.
É meus caros padawans, força não é impor o que se quer, força é conseguir o que se quer.
PS – Nessa época eu era solteiro e não tinha filhos ;)
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