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quarta-feira, dezembro 17, 2014

CARTA DE UM ESTUDANTE DE DIREITO AO PAPAI NOEL

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Boa tarde, Papai Noel. Eu me chamo Matheus, tenho 22 anos e sou estudante do décimo período do curso de Direito da Uniesquina e há anos venho pedindo ao senhor diferentes presentes no Natal. Há 5 anos atrás eu pedi para passar no vestibular, e eu consegui. Eu ingressei no maravilhoso e sonhado curso de Direito.

No primeiro semestre me vestia como o curso de Direito exige: terno, gravata e sapato lustrado. Comprei um livro que pesava quase 2 kg e andava pela universidade com o peito inflado e o braço dolorido, mas carregando o sonho de um dia ser ministro da Suprema Corte.

Os semestres foram se passando, meu Bom Velhinho, e na terceira fase tive que comprar um Vademecum novo porque ninguém me avisou que eu não iria usá-lo nos dois primeiros semestres.

Porra Papai Noel, eu era estagiário, servia café no escritório, ficava numa sala sem ar condicionado, ganhando R$ 600 por mês e ainda tinha que pagar almoço e condução, resumindo foram longos 10 dias sem comer coxinha.

Mas não me deixei abater, Papai Noel, eu ainda sustentava o sonho de ser desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo.

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Então, mais um Natal chegou e eu estava no sétimo período. Eu já não aguentava mais a porcaria da gravata e troquei o sapato por um all star, baixei o Vademecum no celular e aparecia nas aulas dia sim, dia não. Lembro que naquele ano pedi ao Senhor que a professora de penal pegasse uma leve virose e que se cagasse toda enquanto corrigia o meu exame. Aquela bruxa quase me reprovou por 0,5 pontos.

Entretanto, eu não pensava em desistir de ser técnico judiciário.

Então, chegou à nona fase e eu abandonei terno, gravata, sapato, vademecum e todo resto. Mandei o professor do ECA adotar um menor infrator e xinguei todo mundo da comissão de formatura. Larguei o estágio porque não aguentava mais fazer café.

Porém nunca, em hipótese alguma, pensei em desistir de advogar. Mesmo tendo sido escravo no escritório por 4 anos, me vingarei no meu estagiário.

Por fim estou no décimo período. Passei a faculdade inteira sem ir a uma festa como aquelas que eu via nos filmes e não peguei ninguém porque não tenho dinheiro. Estou a 3 dias sem dormir, misturando café, coca, pó de guaraná e energético.

Daqui há 1 mês apresento o TCC e a vaca da professora sequer viu meu tema.

Estou indo pra faculdade de bermuda e havaianas, não sei quando foi à última vez que eu penteei o cabelo e que troquei minha camiseta. Já estudei pra 7 provas e entreguei 14 trabalhos. Reprovei na OAB, meus parentes zombam de mim. Tô pobre, solteiro, feio e humilhado.

Mas não abandonei o sonho de passar no concurso de agente administrativo da Prefeitura.

Querido Papai Noel, esse ano só te peço que a pessoa que me indicou esse curso pegue dengue, malária ou febre amarela.

Feliz Natal

(texto escrito pela nossa criadora de conteúdo Rhuana Ropelatto)

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