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quarta-feira, fevereiro 04, 2015

DIÁRIO DE UMA DOUTORA – O PRIMEIRO DESPACHO COM O DESEMBARGADOR

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Bom dia coisas lindas! Nada como iniciar minha séria de colunas no dia do aniversário hã hã hã?! (sim, estou querendo ganhar vários parabéns!).

Gostaria de lhes informar que apenas a coluna de apresentação que foi ao ar quarta-feira passada já foi motivo para várias polêmicas, mormente no que diz respeito ao nome da Coluna. Não perderei meu espaço para contar histórias (tipo o Forest Gump) lindas para vocês para explicar que o nome da Coluna é Diário de uma Doutoura porque blá blá blá, e não, não tenho doutorado (ainda, me aguardem).

Em caso de discordância, favor acompanhar a Coluna Diário de um Coxinha, tem mais a sua cara =).

Naquele dia, após engolir praticamente inteiro o arroz, feijão e bife especialmente preparado pela minha avó, deixei a mesa do almoço falando: “Tchau Vó, estou correndo que hoje tenho que despachar com o Desembargador”.

sisudo

A coitada, católica fervorosa, ficou branca igual papel e ainda perdi 2 minutos para explicá-la o que era “despachar”, caso contrário chegaria em casa com velas acesas no meu quarto, uma novena e o Padre Marcelo Rossi pronto para o ritual de exorcismo.

Apressei-me para pegar Vossa Excelência no pulo do gato! Meio-dia em ponto lá estava eu no Tribunal de Justiça, saia lápis, camisa social, scarpin, ostentando meu crachá de “Advogado” no peito. “Despachar” não era uma novidade, pois como estagiária já havia passado alguns “migués” e despachado com Assessores e Juízes. Mas com o Desembargador e agora com o título em mãos, a história ficou um pouco diferente.

Penso que o maior receio de um advogado ao despachar – ao menos esse é o meu - é ser destratado pelo Eme Eme, e ser obrigado a ficar calado em contrapartida, pois por mais que saibamos que estes julgarão seu caso com a maior imparcialidade possível, sempre dá aquele medinho!

Apresentei-me às assessoras e aguardei. Meia hora depois entrou um senhorzinho com a cara sisuda e eu já sabia: É o dotô. Ferrou-se. As assessoras pediram para que eu fosse até a sala dele, que me atenderia naquele momento. Refiz minha fala mentalmente (reconsideração, embargos, cômputo dos juros de mora, publicação), umas 10 vezes nos 5 segundos que levei para chegar até sua sala.

Quando entrei, percorri os olhos pelo ambiente, percebendo várias caixas cobertas de livros e processos. Um senhorzinho sentado em sua mesa no fundo da sala me esperava com um sorriso no rosto, que me lembrou meu avô, e quase me fez oferecer-lhe um chimarrão. Antes que eu falasse qualquer coisa ele se adiantou: “Desculpe-me Doutora, mas acabei de mudar de Gabinete e o colega que estava aqui levou os armários, no que estou me adaptando ainda e todos os meus livros e processos estão encaixotados”.

Gaguejei, por óbvio, mas retribui o sorriso e fiz aquela média: “Imagina, Eme Eme, o que importa é estar trabalhando né”. No instante que disse isso já pensei: Pqp sou muito burra, tanta coisa pra dizer e eu formulo uma esplêndida frase que ele vai achar que estou chamando os Emes Emes de preguiçosos. Ele riu, fez de conta que não falei nada e começou a filosofar. Sim, filosofar.

Nos 30 minutos que se seguiram falamos sobre avanços tecnológicos e Freud, a consciência moral em Nietzsche, Descartes e a existência de Deus e outros mais que não me lembrarei. Fomos interrompidos pela Assessora que avisou ter mais um advogado para despachar. Retomamos a consciência e meu texto hermeticamente preparado foi proferido em exíguos 3 minutos, pedindo um #pelamordedeus para ele reconsiderar a decisão proferida nos Embargos, que tinha um pequeno erro material.

É tipo aquelas estórias, as quais você tem uma expectativa do que irá acontecer e na verdade é totalmente diferente. Acho que se eu entrasse de saia até o pé e dreadlocks a conversa teria sido exatamente a mesma e todo o procedimento também (aliás, deveria ter sido mais confortável. Logo menos escreverei sobre a excessiva formalidade do mundo jurídico. A pequena atitude do Desembargador me mostrou que ele é gente como a gente, adora uma conversa, e considera-se em pé de igualdade com um advogado – ainda que recém-formado! Meu pensamento naquele dia foi: Por um Judiciário com mais Emes Emes divertidos e menos Emes Emes coxinhas!

Epílogo

Vida Loka também tem medinho de despachar com o Desembargador.

DaianeLuz

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