Moradores do condomínio Princesa Isabel, localizado na avenida de mesmo nome em Porto Alegre, não só concordaram como também arrecadaram cerca de R$ 10 mil para fazer o grafite que hoje decora a fachada lateral do prédio. A pintura faz homenagem a um traficante morto em janeiro por integrantes de uma gangue rival.
Alexandre Goulart Madeira, mais conhecido como “Xandi”, foi morto a tiros no dia 4 de janeiro em uma casa de veraneio em Tramandaí, no Litoral Norte do estado. Para a polícia, ele era um dos principais traficantes da Região Metropolitana de Porto Alegre.
Segundo a presidente da Associação dos Moradores do Condomínio Princesa Isabel, Eurides Teresinha Pires da Costa, Xandi era adorado por todos que vivem no prédio. Ela diz que os moradores juntaram dinheiro através de uma “vaquinha” e pagaram pelo grafite. Além da imagem do traficante, a pintura é acompanhado pela frase “o padrinho general”.
“As pessoas choram aqui falando dele. Ele se criou com a gente. A vó dele mora aqui no condomínio. O Xandi vinha sempre visitar ela, olhava a nossa creche e ajudava. Ano passado a creche quase fechou. Ele pagava o que tinha que pagar. Meu Deus, ele era adorado”, relatou a mulher.
Eurides afirma que não esperava tanta polêmica em torno do assunto. “Eu não entendo por que um desenho está causando tanto. Perguntamos para a esposa dele se ela autorizava, ela autorizou e fizemos. Até as criança quiseram contribuir”, completou.
A Polícia Civil diz que não há previsão de tomar qualquer atitude sobre a imagem. O delegado César Carrion, da 2ª DP de Porto Alegre, que fica próxima ao local, afirma que não recebeu nenhuma denúncia sobre o caso. Sem que isso ocorra, não haverá investigação, salienta.
“Pelo que ouvi, os próprios moradores concordam. Na pintura, eu não vejo apologia ao crime. Só diz que ele é padrinho, algo assim. Ele é um anti-herói, seria um mau exemplo até para as crianças. Mas não vejo apologia. E, se fosse dano ao patrimônio, também alguém teria que vir aqui e registrar ocorrência”, afirmou o delegado.
O Departamento Municipal de Habitação (Demhab), responsável pela concessão de moradias do condomínio, declarou que se reuniu com a presidente da associação de moradores na sexta-feira (27). Diante da concordância dos moradores, não há intenção de tomar providências para retirada da pintura.
A morte de Xandi
O tiroteio que matou o traficante ocorreu por volta das 14h do dia 4 de janeiro, na casa localizada na Rua 3 de Outubro, em Tramandaí. Segundo a Brigada Militar, quatro homens chegaram ao local em um Corsa vermelho. Dois deles desceram e atiraram contra a residência. Foram feitos vários disparos de fuzil e de pistola 9 mm.
Na residência, conforme as investigações, estava também o comissário de polícia Nilson Aneli. Ele admitiu prestar segurança particular ao grupo de traficantes. O policial havia trabalhado com o ex-secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Airton Michels, durante os quatro anos de seu mandato. Aneli acabou indiciado em dois inquéritos.
No dia do crime, Xandi, que estava à beira da piscina, foi atingido na cabeça e morreu no local. Outro homem, que seria sobrinho do policial, foi atingido nas costas. Ele foi socorrido e transferido para o Hospital de Pronto Socorro da capital. Uma mulher levou um tiro de raspão na barriga.
A casa alugada pelos criminosos fica a uma quadra do mar, perto da plataforma, em um dos pontos mais movimentados de Tramandaí. Segundo a polícia, a quadrilha chegou ao local em 26 de dezembro e voltaria para Porto Alegre na tarde de domingo, 5 de janeiro. A diária paga por eles pelo aluguel da casa foi de R$ 1,2 mil.
Na residência, foram apreendidas cinco pistolas, seis carregadores de 31 tiros, outras 200 munições, uma grande quantia em dinheiro e quatro veículos (entre eles uma caminhonete de luxo), além de joias e uma quantidade de drogas.
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