Quando você está no início tudo parece um bicho de sete cabeças, o primeiro cliente, a primeira ação, primeira audiência, e por ai vai. Nesses “começos” uma ou outra besteira sempre sai, mas, não tem nada mais marcante do que a primeira “carcada” do juiz.
Um cliente que não era meu, de um caso que eu sequer sabia do que se passava, mas, que por amizade, fui lá fazer às vezes de preposta. Recebi as instruções por email, e como o advogado da empresa estaria presente, minha atuação seria pequena. Ledo engano!
A advogada era correspondente, não sabia nem o que estava fazendo ali. Pela cara dela, e trajes, suspeito que ela tenha saído direto da balada pra audiência. A cara de “pós noitada” era inconfundível. A advogada baladeira nem abriu a boca, não apresentou a defesa, nem os documentos, disse que não tinha certeza do que era pra fazer.
Desconfiada de que a doutora era tão novata quanto eu, dei um jeito de olhar o nº da OAB dela, o que me causou uma enorme surpresa, de novata ela não tinha nada! Porque raios então ela estava tão perdida?
Bom, como a audiência tava mais para quadro de DNA do Ratinho, dado os ânimos exaltados, não fiquei pensando muito no comportamento da advogada. Usando das informações que me passaram, comecei a falar. De repente ouço uma voz grave, em tom de “raiva” falando assim: DOUTORA A SENHORA OLHOU OS AUTOS? OLHOU? PEGA ESSE PROCESSO E OLHE, VAI!
Comecei a tremer toda, mas, como sou uma meio orgulhosa, não quis demonstrar que eu estava com vontade de sair correndo, chorando, direto pro colo da minha mãe. Dei uma tossidinha, pedi licença ao Eme Eme e comecei a analisar o processo. Nisso, a empresa me manda mensagem “ordenando” que eu propusesse um acordo. Parei de olhar os autos, disse: “Excelência, gostaria de propor um acordo”.
Após ouvir minha proposta, o Eme Eme fechou a cara, só soltou um DOUTORA!!! Daqueles carregado de raiva, e de uma dose de “ela não está dizendo isso”. Eu achei que fosse desmaiar, depois infartar, ou até mesmo travar igual ao Chaves quando via assombração, sei lá, achei que teria um treco. Respirei, respirei, e informei que era o que a empresa tinha a oferecer. A parte contrária estava tendo um xilique no grau máximo, o juiz puto, e a advogada baladeira tava em outra dimensão. O cenário não podia ser mais lindo.
Como a minha imagem já estava destruída, de forma irremediável, resolvi relaxar, afinal, não havia mais nada que pudesse piorar. O que eu estava muito engana! A advogada baladeira passou a dizer que a empresa (que estava pagando honorários para ela, diga-se de passagem) estava errada mesmo, que era péssima, e que a parte estava certinha, que não deveria fazer acordo.
O juiz, pasmo diante do “brilhantismo inverso” da Preposta-perdida e da Advogada-baladeira, deu um puta sermão, daqueles que você se arrepende de ter nascido. Refiz a proposta, ouvi mais um sermão da parte contrária, mas, sai de lá com o acordo feito.
Tudo acabou bem, a empresa feliz, a parte com a grana no bolso, a advogada com os honorários e eu com um “muito obrigada” pelo favor feito!