O ingresso de alunos cada vez menos autônomos na graduação tem levado universidades privadas a adotarem práticas de colégio, como reunião de pais e boletins.
O centro universitário Belas Artes, na Vila Mariana (zona sul de SP), passou a promover, há um semestre, um encontro entre pais e professores depois da primeira prova. Além disso, a família pode acompanhar notas e a frequência do aluno no portal.
A gerente de agência bancária Cláudia Costa, 48, leva a filha, Ana Giuliana, 20, todos os dias para a faculdade e checa as notas e faltas .
O intuito da reunião é discutir as dificuldades dos estudantes e passar confiança aos pais, sobretudo aos que se mostram superprotetores.
O coordenador do curso de publicidade, Eric Carvalho, 38, diz que a prática decorre da frequência com que estudantes, até nos anos finais da graduação, recorrem aos pais para reclamar de notas.
Segundo Carvalho, tendem a ser mais conscientes os alunos que pagam a própria mensalidade –de R$ 1.482 a R$ 3.513 na Belas Artes. Mas em instituições frequentadas pela classe média alta, a família costuma custear os estudos, e os jovens precisam de um empurrãozinho, diz.
Para ele, esses estudantes têm autonomia limitada e repertório incipiente. "Não quero generalizar, mas é uma geração um pouco mais mimada", afirma.
Na ESPM (Vila Mariana), com mensalidade na faixa de R$ 3.000, também se nota a presença dos pais. O diretor de graduação, Luiz Fernando Garcia, diz ter registro –"graças aos céus, poucos"– de mãe reclamar de reprovação em MBA (especialização).
Durante o vestibular, a escola convida as famílias para conhecer instalações e professores. Os aprovados podem assistir à aula inaugural com os pais. É como um rito de passagem. "A gente reforça o recado: 'Muito obrigado pela confiança. A partir daqui, é conosco'", diz Garcia.
Ele conta que se tornou comum mães acompanharem filhos até a sala de espera em entrevistas do estágio, "e ainda quererem entrar junto...".
A universidade Mackenzie, na Consolação (centro), passou, no ano passado, a fazer um encontro de início de curso com pais, que lotou um espaço de mais de 900 lugares.
O reitor, Benedito Aguiar, diz se preocupar com a "afluência" de estudantes a bares em horário de aula. Nesse sentido, analisa, falta maturidade para perceber que precisa de "afinco e dedicação" aos estudos.
Um indicador da mudança de perfil é a queda na procura pelo período noturno. Com curso pago pela família, alunos não precisam trabalhar e são mais "vigiados" em casa. "O protecionismo talvez contribua para a acomodação de alunos", afirma o reitor.
Fonte: Folha
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