Antes de adentrar no tema, gostaria de trazer a tona minha alegria orgástica por poder fazer, neste artigo, algo que não consegui em cinco anos de graduação em direito: utilizar, da palavra inconstitucionalissimamente, tida como a “maior palavra da língua portuguesa” (até a minha infeliz descoberta da palavra pneumoultramicroseiláoque...)
Posto isso, ingresso no tema, baseando minha fala em uma clássica aula de Introdução ao Estudo do Direito, em que meu professor comentava sobre um esporte muito nobre e conhecido, porém com poucas chances de se tornar olímpico: Arremesso de anão!
Possivelmente, se você já pisou os pés em uma Faculdade de Direito já teve essa aula a respeito de arremesso de anão, em que o professor argumenta que, mesmo que os baixinhos fossem arremessados de forma voluntária, tal situação era degradante e inaceitável em nosso ordenamento jurídico, pois afetava a sua dignidade de pessoinha humana, princípio constitucionalmente consagrado.
Pois bem, se o arremesso de anão é inconstitucional, pois afeta a dignidade das pessoas, por certo as tais das passeatas são inconstitucionalissimamente inconstitucionais, haja vista meu vergonhalheiômetro atingir níveis nunca antes registrados na história deste país. Coisas como idosos pelados, boneco de Lula presidiário de 12 mil reais, cartazes com mensagens de ódio e morte, faixas com erros grotescos de português, pedidos de intervenção militar, volta de Sarney(...), foram só algumas das perolas que foram registradas neste fatídico fim de semana.
Antes de ser rotulado como “maldito petralha esquerdopata”, adianto que neste aspecto não sou de canhota ou de direita, nem tampouco sou contra manifestações populares legítimas, mas especificamente, estas manifestações dos últimos tempos estão sendo vergonhosas.
Digo isso, ainda, com base em uma reflexão muito profunda que fiz acerca do real motivo da popularidade da Dilma atingir um número tão baixo que até o Lula consiga contar nos dedos: Se engana quem pensa que é a crise, a corrupção, a recessão econômica, o medo do desemprego ou a inflação. Nada disso está levando tanta gente às ruas quanto o que a jurisprudência pátria denomina como DOR DE CORNO!
É, meus amigos, casamos com a Dilma, alguns por opção, outros a contragosto, mas todos nós estamos casados com ela. Como se isso não fosse suficientemente ruim, ela teve a audácia de nos trair! Nós! Seus cônjuges! Traiu-nos ao esconder a situação econômica caótica do país e nos galhou novamente após a eleição, ao fazer tudo que ela prometeu não fazer na hora do sim na Igreja urna. E se tem uma coisa que (quase) ninguém admite é a tal da traição, seja dos cônjuges (pra alegria dos advogados) ou da presidente.
Infelizmente, assim como no adultério, trair o povo, é feio, é revoltante, mas, por si só, não é crime. Porém isso não impede que o corno se revolte e faça um constrangedor barraco, que neste caso específico alguns batizaram de micareta de coxinha. Outros chamam de algo ainda pior: Passeata! Que é, segundo o Grande Dicionário Houaiss, um “ligeiro passeio; giro, volta”.
Na micareta, pelo menos se beija na boca, mas este passeio é algo realmente inútil, pois certo é que, independente das dancinhas, do panelaço, dos cartazes, a Dilmamãe já disse que não sairá por bem. E legalmente falando ela não está, ainda, como possível alvo de um pedido de impeachment.
Antes de continuar, proponho um teste hipotético: Perguntem para esses manifestantes sobre quem entraria no lugar da Dilma, caso a mesma sofresse o tão aclamado impeachment. Aposto que alguns diriam Aécio, outros Renan Calheiros, até Wesley Safadão poderia ser cotado, vez que sua popularidade vai de vento em poupa, mas poucos saberiam de verdade, que nesse caso, quem assume, constitucionalmente é o vice, Michel Temer. Ou seja, trocaríamos, treze, por pouco mais de uma dúzia...
Isso é o que me causa essa vergonha alheia imensurável. Mais que os cartazes, mais que as nádegas de senhores de idade! Milhares de pessoas nas ruas, achando que impeachment é impugnação de mandato eletivo, que presidente pode ir preso por crime comum, pedindo algo que não possui amparo legal, e mesmo que possuísse, não resolveria em nada nosso sistema político corrupto, reflexo de uma nação de maioria corrupta. Colocando na balança, isso é muito, mas muito pior que o arremesso de Anão! Se isso não afeta a dignidade da pessoa humana, não sei mais o que afeta!
Talvez as coisas até melhorassem um pouco com a saída da Dilma, mas daí a achar que ela é culpada por todos os males do Brasil é superestimar demais uma pessoa que acha que Roraima é uma capital, Dilma não é mais culpada que seus antecessores, ou o legislativo em praticamente sua totalidade, ou ainda o cidadão que acha um celular “sem dono” na rua e não o devolve, ou recebe o troco errado no mercadinho e fica quieto.
Vivemos em um país de valores tão deturpados que quando estive a frente da Secretaria de Educação de meu município, fui convidado a participar de um esquema de corrupção. Após tão indecente proposta cumpri com minha obrigação de cidadão, que apesar de ser o correto, foi aos olhos de muitos, uma traição: Pedi exoneração do cargo, denunciei os envolvidos, que eram meus amigos, e fiz um vídeo relatando o ocorrido para que todos tomassem ciência. Só fiz o que era exigível, correto, mas sofri duras represálias por conta disso. Mas mesmo assim fiz, sem ter que bater uma panela! Sou a favor de protestos, mas desde que sejam pelos motivos certos e da forma certa.
Por fim, deste fim de semana, só me resta uma alegria: saber que no País do Carnaval, no próximo fevereiro, teremos lindos bonecões de Lula presidiário de 12 mil reais desfilando, enquanto o povo se diverte neste circo chamado Brasil.
André Yuri é criador de conteúdo do NED e advogado em Ibiassucê/BA
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