Alfred Postell era como um fantasma. Ninguém parecia notar este homem sem-teto segurando seus bens em sacos plásticos pelas ruas de Washington. Isso mudou no começo desta semana, quando a história de sua vida ganhou as páginas do "Washington Post". Apesar de uma infância pobre, Postell conseguiu ingressar na renomada Escola de Direito de Harvard, onde se graduou como advogado. Mas ele precisou abandonar a carreira em função de uma esquizofrenia.
Postell surpreendeu a todos durante uma audiência no Superior Tribunal de Justiça de Washington. Diagnosticado com esquizofrenia e acusado de dormir ao lado de um prédio de escritórios no centro da cidade, ele ouviu de um funcionário que tinha o direito de permanecer em silêncio e que tudo que dissesse, exceto para o seu advogado, poderia ser usado contra ele.
- Eu sou advogado - respondeu Postell. - Sou graduado pela Escola de Direito de Harvard em 1979.
A afirmação chamou a atenção do juiz Thomas Motley, que se formou na instituição no mesmo ano.
- Lembro de você. Mas não tenho escolha - emendou, antes de mandar Postell para a cadeia até que as acusações contra ele fossem resolvidas.
Os nomes de diversas figuras conhecidas nos Estados Unidos aparecem no livro dos formandos da referida escola de direito em 1979. Entre eles, está o chefe de justiça da Suprema Corte, John Roberts.
Após se formar, Postell chegou a trabalhar em um famoso escritório de advocacia. Porém, mais de 30 anos atrás, a esquizofrenia se apoderou dele, e ele nunca se recuperou.
Em meio a centenas de moradores de rua que vivem em Washington, ele provavelmente possui o maior número de diplomas: três. Um em Contabilidade, um em Economia e outro em Direito.
A história dele levantou a bandeira sobre a forma discriminatória como as pessoas são tratadas, bem como as consequências da falta de atendimento adequado a doentes mentais.
- Tendemos a ver as pessoas pelo que elas são no momento - disse Gunther Stern, diretor executivo do Georgetown Ministry Center, que atende moradores de rua. - Olhamos para o homem sem-teto sentado em um caixote e pensamos: 'mendigo fedido'. Nos perguntamos como eles podem viver assim.... Mas muitos também estavam cheios de esperanças, sonhos e possibilidades antes da doença mental derrubá-los.
O Departamento de Saúde Comportamental do Distrito não pode administrar tratamento aos doentes mentais sem consentimento. A única ressalva é se um médico acreditar que a pessoa é um perigo iminente para si ou para os outros. E mesmo assim, a cidade precisa de aprovação do Tribunal para prender essa pessoa.
Sobre Postell, a vissibilidade que recebeu com a história mobilizou algumas entidades a ajudá-lo. A equipe de saúde mental do Green Door começou a trabalhar com ele. A ONG Pathways to Housing, que ajuda os sem-teto do país, também entrou no caso, enquanto sua mãe está juntando dinheiro para tentar tirá-lo da rua.
Fonte: O Globo
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